Lisboa: Instituto de Cultura e Lingua Portuguesa, 1987. — 130 p.
Numa noite do ano de 1930, no quarto de Ludgero Pinto Basto, estudante de Medicina, que preparava com Juvenal Esteves já não sei que trabalhosa matéria de exame, comentávamos um artigo de jornal, de Manuel Heleno, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, onde atribuía às suas importantes escavações de necrópoles dolménicas do Alentejo o propósito de esclarecer «as origens da nacionalidade portuguesa». Esse material, sem dúvida precioso, independentemente da interpretação forçada que se pretendia fundamentar nele, nunca foi publicado e é duvidoso até que alguma vez possa vir a ser devidamente utilizado. O anúncio, difundido pelo poderoso meio da imprensa diária, correspondia a uma tese, original aliás, de Bosch Gimpera, que o arqueólogo português levava às suas extremas consequências. Em parte falsa, exagerada e apresentada de maneira pouco convincente, esta ousada interpretação da génese de um agregado nacional era, sem dúvida alguma, apaixonante. E isso explica o que, em seguida, aconteceu.
Frequentemente, levado pela amizade e íntimo convívio com Juvenal Esteves (hoje notável professor de Dermatologia na Faculdade de Medicina de Lisboa) e pela forte apetência de cultura de todos nós e doutros amigos de então, hoje apenas vivos na nossa saudade (José Cutileiro, Mário Chicó), formávamos uma tertúlia onde, conforme as matérias, um procurava ensinar e os demais aprendiam - enriquecendo uma cultura em larga parte comum. A conversa transformava-se em viva discussão, prolongando-se até altas horas, obrigando-me o exigente raciocínio científico dos meus amigos a procurar consistência aos débeis argumentos que eu podia utilizar. Dela nasceu a ideia do presente escrito, sistematizado pela primeira vez numa conferência que proferi no Centro de Cultura Portuguesa de Bruxelas em 1939.